PRESERVAÇÃO,  CULTURA  E  MEMÓRIA

 

 

            Povo sem memória, perde sua história, diminui na sua cultura.    A memória se firma por símbolos, se retrata em monumentos, transfigura nos locais onde se formou.   Dos locais em que muito se formaram memórias de vida, os antigos cinemas de bairro têm especial destaque.  Emoção, drama, aventura, paixão, amor...  Nas telas e nas vidas dos que por eles passaram. 

 

            Destas memórias são muito poucos os ícones que agora restam.    A maior parte foi destruída ou descaracterizada até se apagar.   Na Cidade do Rio de Janeiro, dos poucos que restam, para a nossa memória fica a incerteza de quanto deles ainda poderão nela se perpetuar e alcançar as gerações futuras.  A baixada de Irajá muito vem perdendo de sua memória. Dos grandes cinemas, vão se apagando os seus nomes: São Pedro, Coliseu, Alpha, Irajá, Carmoly, Mello, Guarani, Santa Cecília ... outros mais.  Entretanto, um deles, como a simbolizar a intenção de perpetualizar seu nome, tem este grafado em seu próprio corpo, ao alto, no frontispício do prédio que o abrigou:  CINE VAZ LOBO.   

Fachada do Cine Vaz Lobo

           

         O grande salão que lentamente escurecia; as grandes cortinas vermelhas que se abriam após o soar do terceiro gongo; nas brancas sancas laterais, dando as paredes  exuberantes matizes de cores, os jogos de luzes a piscar se alternavam em verde, vermelho e amarelo.  Na tela ainda parcialmente coberta, a surpresa por demais conhecida: UCB – Atualidades Atlântica.  Depois, na tela e nas cadeiras, emoções, estórias, vitórias e derrotas, pois ir ao cinema era então muito mais que assistir ao grande lançamento de Hollywood. Era ver e ser parte da vida de uma época.     

 

            Ainda esta lá o velho prédio no Largo de Vaz Lobo.   Vão se passando os anos e ele permanece ali, fiel a sua origem de cinema.   Porém, os anos também foram cruéis para com o seu brilho, trouxeram necessidades de progresso.  A população cresceu, o deslocamento urbano pede soluções e um grande corredor de transporte se faz necessário. Na construção deste, ao longo de seu percurso prédios serão sacrificados. Na grande lista destes já constava o velho Cine Vaz Lobo.   Porém, ainda não é a sua morte.   Um desvio de alguns metros para o seu oposto pode garantir a sua conservação. Assim, temos uma razão para defender a sua não demolição.     É a luta pela PRESERVAÇÃO do ícone.  

 

            Mas o prédio em si, sem mais do que hoje esta é e será apenas um ícone, e sujeito a qualquer dia, ou instante, sofrer da mesma angustia que agora passa: deixar de existir por força de outros valores.    De forma que preservar, torna-se necessário que ele, o prédio, possa abrigar aquilo de que é ele símbolo: a CULTURA de seus representados,  ali assegurada como centro desta e como Patrimônio Histórico.

 

            Garantida a PRESERVAÇÂO e  a CULTURA, ter-se-a então, em afirmação, a MEMÓRIA de tantos que por lá marcaram  e irão marcar momentos de suas vidas.

 

            O Movimento Cine Vaz Lobo: Preservação, Cultura e Memória, formado por moradores, amigos, historiadores e pesquisadores do bairro Vaz Lobo e baixada de Irajá, tem por objetivo o encontro de meios à garantir a não demolição do Cine Vaz Lobo, promover seu tombamento como Patrimônio Histórico Municipal, Estadual e Nacional, de forma a transforma-lo em Centro Cultural  onde, com ênfase na atividade fim de sua criação, em especial seja cultivada as artes cênicas e áudio visuais.    

 

            A proposta do Movimento Cine Vaz Lobo: Preservação, Cultura e Memória, se concretizará pela adesão e o apoio de todos quantos com seus ideais possam se irmanar.  Unamos os nossos esforços. Todos são importantes.